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domingo, 10 de outubro de 2010

Glee e as coisas sérias

Glee é uma grande brincadeira que homenageia a cultura pop. Muitos criticam o roteiro, que em alguns episódios parece - e é - mesmo fraco. O que demorei um pouco para entender é que às vezes a estória é apenas pano de fundo para uma homenagem, como foi o episódio com as músicas de Madonna.
Por não ser sua fã, claro que a overdose de números musicais foi um porre para mim. O que não desmerece existência do episódio diante do que a cantora representa para a cultura pop e do imenso número de fãs.

Glee se consolida como a série "querida". E se sabe brincar, inclusive com ela mesma, sabe tratar de temas sérios com muita dignidade e sensibilidade. Tem sido assim com a abordagem da relação de Kurt e seu pai. A aceitação da homoxessualidade do filho por um pai "machão" não soa hipócrita e politicamente correta, mas sincera e comovente.
A sinceridade se estende à aceitação geral e o homofobismo disfarçado que existe por aí. Finn, por exemplo, quando se vê obrigado a conviver com Kurt na mesma casa, surta e acaba destilando o preconceito presente em grande parte da sociedade. É o tipíco "Não tenho nada contra desde que não tenha que conviver". E que foi maravilhosamente lembrado por Burt, o pai que aprendeu a respeitar o filho gay.
Em uma cena da temporada passada (episódio 20), Finn surta com Kurt: ....e então essa cobertura de sofá bicha. Ao presenciar a cena, Burt lança um dos melhores textos da série: "Ei! ...Se usa essa palavra, está falando dele. Usa a palavra "preto"? E "retardado"? Chama aquela garota de retardada? Não. Mas acha normal vir à minha casa e dizer "bicha"? -Eu sei o que quis dizer! Acha que não usei essa palavra quando tinha a sua idade?Se alguém se cansava no treino, falávamos para deixar de ser bicha. Era o mesmo significado que você usou. Que ser gay é errado, que é uma infração que merece ser punida.
Achei que você era diferente...que você era de uma nova geração de homens, que pensava de modo diferente. Que já saberia de algo que levei anos de esforço para entender"
.

Na última semana (episódio 02×03/Grilled Cheesus), a série acertou novamente ao falar de religiosidade ou, a falta de. Em um episódio mais dramático do que o normal -  e a própria metaliguagem destacou o fato. Em um momento, uma personagem, acho que foi Santana, soltou: Semana passada era sexo, esta é religião!, referindo-se ao episódio com Britney Spears - Glee conseguiu tocar em pontos polêmicos sem se esquivar e honestamente. Mostrou diferentes visões e religiões na repercussão da doença de Burt e foi mais fundo ao relacionar o ateísmo de Kurt com a intolerância das religões à homoxessualidade.
Intolerância, alías, foi o foco. Claro, é o que nunca falta quando quando se fala de religião. Tanto da parte dos descrentes, quanto dos crentes, há a inevitável tentativa de persuadir o "outro lado"  juntar-se ao seu lado da Força.
Por bem, como deveria ser sempre, prevaleceu a tolerância (aí entrou a ficção). É óbvio: cada um tem o direito de crer ou não. E de encontrar paz seja no que for. O importante é que não faltou verdade.
Enquanto Glee continuar conseguindo imprimir sinceridade a temas potencialmente polêmicos, embrulhando estas coisas sérias que precisam muito ser abordadas em pura cultura pop da melhor qualidade, será a minha série mais querida. Fiel ao que se propõe e corajosa na medida certa, Glee é o que de melhor temos em cultura pop atualmente no entretenimento televisivo.




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